"A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."
Para
início de conversar quero deixar claro que não ousarei fazer uma resenha
minuciosa a respeito da obra do vencedor do prêmio Nobel, José Saramago.
Falarei da minha primeira experiência com esse grande autor que usa a pontuação
como bem entende e faz isso de maneira admirável. Mas, antes de falar sobre a
sua maneira “peculiar” de escrever, quero falar um pouquinho sobre o que achei
da obra “Ensaio sobre a cegueira”.
O
romance começa em um cenário normal. Um homem normal, dentro de um carro
normal, com uma vida normal é acometido por uma cegueira anormal. De repente o
mundo dele fica branco, como se estivesse mergulhado em “um mar de leite”. Ele
se desespera e é socorrido por um pedestre que oferece ajuda. O homem o leva em
casa, mas acaba por roubar seu carro. E acaba por ficar cego após certoperíodo
de tempo. E quanto mais o tempo passa, mais pessoas são alcançadas pelo “mal
branco”. O governo resolve usar uma medida energética e coloca, tanto os cegos,
como as pessoas que tiveram contato com os cegos, em quarentena. Mas a mulher
do oftalmologista se finge de cega e vai para a quarentena com seu marido, e
inexplicavelmente ela não fica cega durante toda a trama. E lá se desenrola uma
história de tirar o fôlego. Pelo menos o meu fôlego o Saramago conseguiu tirar.
A
trama se desenvolve de uma maneira direta, o narrador se relaciona com o leitor
e nós sentimos a agonia de estar em uma terra de cegos e não se sentir, nem de
longe, o rei. Parece que, por mais que
queira falar sobre como me senti ao ler o livro, eu não consigo ter sucesso. É
angustiante, intrigante, revoltante e irresistível. E, acredite, é quase
impossível esquecer essa história. Ela trabalha muito o social, mostra que o
mal, assim como o bem, está dentro de todo ser humano independente do estado
dos seus sentidos. Esse romance fala sobre a ética, sobre a falta e a presença
da humanidade, fala sobre a solidariedade, o afeto. Acho que não é novidade
nenhuma dizer que Saramago foi impressionante e trouxe
uma realidade assombrosa.
Queria
só pincelar sobre a maneira como José Saramago escreve. Assustou-me muito, de
início, um Nobel escrever usando apenas ponto (.) e vírgula. Muitas pessoas se
perdem nessa maneira Saramago de escrever. Mas a obra é tão envolvente que você
acaba por se acostumar e até mesmo apreciar. Então, resolvi dar uma pesquisada
antes de postar algo, e acho que não há ninguém melhor para explicar sua
maneira de escrever do que o próprio Saramago. Aqui está um trecho do que ele
disse em uma de suas entrevistas, no ano de 2004 numa entrevista ao semanário Expresso: “Era como se eu lhes tivesse
a contar a eles a história que eles me tinham contado. E, como você sabe,
quando falamos, não usamos sinais de pontuação. Temos pausas [de respiração] e
até, como eu digo nos meus livros, os dois únicos sinais de pontuação, o ponto
e a vírgula, não são sinais de pontuação, são uma pausa, uma pausa breve e uma
pausa longa. No fundo, como também digo muitas vezes, falar é fazer música”.
Para saber mais sobre a escrita de Saramago clique aqui.
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