quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Resenha | Ensaio sobre a cegueira


"A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."

Para início de conversar quero deixar claro que não ousarei fazer uma resenha minuciosa a respeito da obra do vencedor do prêmio Nobel, José Saramago. Falarei da minha primeira experiência com esse grande autor que usa a pontuação como bem entende e faz isso de maneira admirável. Mas, antes de falar sobre a sua maneira “peculiar” de escrever, quero falar um pouquinho sobre o que achei da obra “Ensaio sobre a cegueira”.

O romance começa em um cenário normal. Um homem normal, dentro de um carro normal, com uma vida normal é acometido por uma cegueira anormal. De repente o mundo dele fica branco, como se estivesse mergulhado em “um mar de leite”. Ele se desespera e é socorrido por um pedestre que oferece ajuda. O homem o leva em casa, mas acaba por roubar seu carro. E acaba por ficar cego após certoperíodo de tempo. E quanto mais o tempo passa, mais pessoas são alcançadas pelo “mal branco”. O governo resolve usar uma medida energética e coloca, tanto os cegos, como as pessoas que tiveram contato com os cegos, em quarentena. Mas a mulher do oftalmologista se finge de cega e vai para a quarentena com seu marido, e inexplicavelmente ela não fica cega durante toda a trama. E lá se desenrola uma história de tirar o fôlego. Pelo menos o meu fôlego o Saramago conseguiu tirar.

A trama se desenvolve de uma maneira direta, o narrador se relaciona com o leitor e nós sentimos a agonia de estar em uma terra de cegos e não se sentir, nem de longe, o rei.  Parece que, por mais que queira falar sobre como me senti ao ler o livro, eu não consigo ter sucesso. É angustiante, intrigante, revoltante e irresistível. E, acredite, é quase impossível esquecer essa história. Ela trabalha muito o social, mostra que o mal, assim como o bem, está dentro de todo ser humano independente do estado dos seus sentidos. Esse romance fala sobre a ética, sobre a falta e a presença da humanidade, fala sobre a solidariedade, o afeto. Acho que não é novidade nenhuma dizer que Saramago foi impressionante e trouxe uma realidade assombrosa.



     Queria só pincelar sobre a maneira como José Saramago escreve. Assustou-me muito, de início, um Nobel escrever usando apenas ponto (.) e vírgula. Muitas pessoas se perdem nessa maneira Saramago de escrever. Mas a obra é tão envolvente que você acaba por se acostumar e até mesmo apreciar. Então, resolvi dar uma pesquisada antes de postar algo, e acho que não há ninguém melhor para explicar sua maneira de escrever do que o próprio Saramago. Aqui está um trecho do que ele disse em uma de suas entrevistas, no ano de 2004 numa entrevista ao semanário Expresso: “Era como se eu lhes tivesse a contar a eles a história que eles me tinham contado. E, como você sabe, quando falamos, não usamos sinais de pontuação. Temos pausas [de respiração] e até, como eu digo nos meus livros, os dois únicos sinais de pontuação, o ponto e a vírgula, não são sinais de pontuação, são uma pausa, uma pausa breve e uma pausa longa. No fundo, como também digo muitas vezes, falar é fazer música”.

Para saber mais sobre a escrita de Saramago clique aqui.

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